sábado, 9 de junho de 2012

Tradição junina (1)




Que felicidade ter o que recordar e disseminar entre as gerações que nos sucedem. Essas recordações orientam os nossos sucessores, descendentes, ao entendimento dos nossos costumes, o porquê de como somos, a riqueza da nossa comida. Uma lembrança, em especial, nos devolve a alegria do tempo passado e faz o nosso coração bater mais forte – os festejos juninos. Tanto na cidade – Aracaju – quanto no interior do estado – Sergipe – as festas juninas eram ansiosamente esperadas, e, em determinados pontos da cidade, eram erguidos os “arraiás”, logo no mês de maio, criando o clima junino já próximo e as músicas começavam a invadir as casas, trazendo à tona o “xote”, o “forró” (o verdadeiro e puro), e voltávamos a ouvir o Luiz Gonzaga e tantos outros que embalavam as noites de Santo Antônio, São João e São Pedro. O que de bom guardamos como lembrança, acaricia o nosso coração porque, além de trazer de volta a nossa juventude, traz também as pessoas queridas que não estão mais, fisicamente, conosco. Lembro muito  bem de como eram comemoradas essas datas na minha infância. Éramos três irmãos e os meus pais preparavam todo o clima. À minha mãe, cabia o preparo das guloseimas próprias da ocasião e a indumentária, com as tradicionais roupas caipiras. Os dois meninos, vestiam calça com remendos, camisa quadriculada enriquecida pela jabiraca de cor contrastante, chapéu de palha e botas; para mim, vestido amplamente rodado, com anáguas engomadas para dar corpo ao vestido que era ornado com bicos, rendas de feira e rendas de “bilro” e fitas coloridas. Nos pés, geralmente, tamancos coloridos ou sapatilhas coloridas, comprados no mercado. Na cabeça, ora era um chapéu de palha enfeitado, de onde saíam duas tranças postiças com laços de fitas, ora eram fitas que davam acabamento a um “rabo de cavalo” ou mesmo flores de papel, no cabelo longo e solto, tornando a caipira mais brejeira. A meu pai cabia a estrutura física: um mastro (geralmente era um pé de mamona trazido de um terreno baldio próximo à nossa casa) e a fogueira, que proporcionava calor às noites juninas, em geral chuvosas e “frescas”. As comidas típicas tinham lugar de destaque na festa e correspondiam à expectativa dos sabores: bolo de milho e de macaxeira (mandioca) eram os preferidos. Também o milho cozido, amendoins, cocada, canjica e mungunzá. O cheirinho bom emana da história e perpassa na linha do tempo. Os fogos, meu pai os comprava com muita antecedência e os guardava a “sete chaves” em um quarto na dispensa que ficava no quintal da casa. No dia, ele preparava, cuidadosamente, um desses fogos que era uma roda que girava espalhando faíscas coloridas de muita beleza. Ele, para nos proteger de queimaduras, pregava na ponta de um cabo de vassoura (guardado durante o ano de vassouras velhas, para esse fim) e, assim, poderíamos usufruir da brincadeira sem problemas. Muita saudade. Essas pessoas fizeram-nos – a mim e a meus irmãos – muito felizes. Nas pequenas coisas que nos proporcionavam. E muito mais quando nos ensinaram a agir assim mesmo com os nossos filhos e tudo isso mostra como é importante que alimentemos as nossas tradições, propalando e disseminando entre os jovens, os hábitos e costumes que tínhamos e vivenciávamos enquanto crianças.

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