As fogueiras já começam a esquentar as noites juninas,
convidando a todos a adentrar no arraial e lá envolver-se na magia dos hábitos
e costumes da nossa terra, carregados de conteúdos simbólicos e afetivos. Aprendi
muito cedo, com os meus pais, a alimentar o gosto pelas festas juninas e criei
os meus filhos no exercício das nossas tradições. Nutria um prazer enorme em
cumprir, à risca, os hábitos aprendidos na infância e preparava todo o ambiente
para a comemoração do São João, inclusive vestindo os meus filhos a caráter,
cujas roupas eram por mim idealizadas e confeccionadas. A rua em que moramos
sempre foi muito movimentada, porque nela moravam e ainda moram famílias
antigas no endereço e, coincidentemente, com filhos na mesma faixa etária, o
que proporcionou a intimidade maior entre todos e uma festa completa e muito
animada. Depois que “as crianças” casaram e se foram para a nova vida, houve
uma certa ruptura no calendário festivo da rua, porque elas, as “crianças”,
eram a razão de toda animação. Estamos, ansiosamente, aguardando a geração dos
netos – que já chegam aos poucos - desses moradores, para um novo ciclo junino.
Assim, e mais uma vez, as lembranças não nos deixam, e entre nós moradores que compomos
a geração “antiga”, falamos muito disso tudo e sentimos saudades dos tempos áureos
dos festejos juninos na nossa morada: a falta de fogueiras em todas as portas,
a animação das quadrilhas improvisadas, do café da manhã que preparávamos para
os filhos que passavam a noite no arraial instalado no meio do trecho, e de
todos, sem distinção, reunidos em torno do calor humano proporcionado pelo
calor da fogueira e da partilha de momentos tão bons. E viva o São João, a
festa maior do nordestino que se preza!
sábado, 9 de junho de 2012
Tradição junina (1)
Que
felicidade ter o que recordar e disseminar entre as gerações que nos sucedem.
Essas recordações orientam os nossos sucessores, descendentes, ao entendimento
dos nossos costumes, o porquê de como somos, a riqueza da nossa comida. Uma
lembrança, em especial, nos devolve a alegria do tempo passado e faz o nosso
coração bater mais forte – os festejos juninos. Tanto na cidade – Aracaju –
quanto no interior do estado – Sergipe – as festas juninas eram ansiosamente
esperadas, e, em determinados pontos da cidade, eram erguidos os “arraiás”,
logo no mês de maio, criando o clima junino já próximo e as músicas começavam a
invadir as casas, trazendo à tona o “xote”, o “forró” (o verdadeiro e puro), e voltávamos
a ouvir o Luiz Gonzaga e tantos outros que embalavam as noites de Santo
Antônio, São João e São Pedro. O que de bom guardamos como lembrança, acaricia
o nosso coração porque, além de trazer de volta a nossa juventude, traz também
as pessoas queridas que não estão mais, fisicamente, conosco. Lembro muito bem de como eram comemoradas essas datas na minha
infância. Éramos três irmãos e os meus pais preparavam todo o clima. À minha
mãe, cabia o preparo das guloseimas próprias da ocasião e a indumentária, com
as tradicionais roupas caipiras. Os dois meninos, vestiam calça com remendos,
camisa quadriculada enriquecida pela jabiraca de cor contrastante, chapéu de
palha e botas; para mim, vestido amplamente rodado, com anáguas engomadas para
dar corpo ao vestido que era ornado com bicos, rendas de feira e rendas de
“bilro” e fitas coloridas. Nos pés, geralmente, tamancos coloridos ou
sapatilhas coloridas, comprados no mercado. Na cabeça, ora era um chapéu de
palha enfeitado, de onde saíam duas tranças postiças com laços de fitas, ora
eram fitas que davam acabamento a um “rabo de cavalo” ou mesmo flores de papel,
no cabelo longo e solto, tornando a caipira mais brejeira. A meu pai cabia a
estrutura física: um mastro (geralmente era um pé de mamona trazido de um
terreno baldio próximo à nossa casa) e a fogueira, que proporcionava calor às
noites juninas, em geral chuvosas e “frescas”. As comidas típicas tinham lugar
de destaque na festa e correspondiam à expectativa dos sabores: bolo de milho e
de macaxeira (mandioca) eram os preferidos. Também o milho cozido, amendoins,
cocada, canjica e mungunzá. O cheirinho bom emana da história e perpassa na
linha do tempo. Os fogos, meu pai os comprava com muita antecedência e os
guardava a “sete chaves” em um quarto na dispensa que ficava no quintal da
casa. No dia, ele preparava, cuidadosamente, um desses fogos que era uma roda
que girava espalhando faíscas coloridas de muita beleza. Ele, para nos proteger
de queimaduras, pregava na ponta de um cabo de vassoura (guardado durante o ano
de vassouras velhas, para esse fim) e, assim, poderíamos usufruir da
brincadeira sem problemas. Muita saudade. Essas pessoas fizeram-nos – a mim e a
meus irmãos – muito felizes. Nas pequenas coisas que nos proporcionavam. E
muito mais quando nos ensinaram a agir assim mesmo com os nossos filhos e tudo
isso mostra como é importante que alimentemos as nossas tradições, propalando e
disseminando entre os jovens, os hábitos e costumes que tínhamos e
vivenciávamos enquanto crianças.
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