domingo, 4 de outubro de 2009

Tocantes mensagens

As propagandas e campanhas apresentadas na TV sempre me atraíram, exatamente pela inteligência das mensagens que passam. Indiscutivelmente, a criatividade consegue revestir de emoções o foco da venda e do alcance que se pretende ter. Hoje mesmo tive a oportunidade de ver uma dessas mensagens, cujo conteúdo se apresenta revestido de uma carga emocional muito forte, a respeito da Campanha de Doação de Órgãos. Partilhem comigo:

Por conta do que vi, fui à cata de outras, dignas de destaque e aplausos, também buscando sensibilizar para o despreendimento da matéria após a morte. Esta, reafirmando a fidelidade do cão pelo seu “dono”...

... e outra enaltecendo a sensibilidade de uma criança para com sua mãe, privada da visão. Realmente, a capacidade de expressar, tão fortemente, um chamamento tão sublime, me emociona e acaba por, moralmente, comprometer a mim mesma, os meus valores.

Pois é!. A “doação de órgãos” não é só um clichê bem sucedido, mas uma prática de pessoas desprovidas do apego material, espiritualmente superiores. Reflita você sobre essa possibilidade!

Lygia Prudente

domingo, 20 de setembro de 2009

Uma Crônica - permeada de saudade - para MARILDA PERES LEITE.

"Às vezes precisamos 'perder' algo, para que ele possa brilhar como uma estrela no céu.” “Dona” Marilda, não há verdade além desta, manifestada através da gratidão dolorida do sergipano, que triste se levanta e aplaude, para reconhecer seu generoso, permanente, constante e insistente trabalho que, ao longo do tempo, e imbuída de um sublimado espírito cristão, transformou a vida de milhares de pessoas amparadas pelo milagre do amor que a Casa Maternal Amélia Leite, fundada por seu sogro, Dr. Augusto Leite, vem semeando na comunidade. O sofrimento não marca hora para atingir as pessoas. A fome que desnutre, mata e assola, é diária. E o socorro também tem que ser, diário e permanente. A senhora percebeu isso muito cedo e se doou à causa tão veementemente, alheia à delicadeza da sua saúde, alimentando-se da ferrenha decisão de ficar entre nós, até que a vontade do Senhor interferiu de forma contrária à sua. Não podemos deixar de enaltecer o seu trabalho, que recriou, na comunidade carente até de amor, o espírito cristão. Em tempos tão conturbados, marcados pela violência urbana, consumismo desenfreado e degradação de costumes, mostrou, na prática, o significado verdadeiro da palavra solidariedade, estendendo a sua mão amiga e carinhosa, levando conforto, esperança e qualidade de vida aos que mais precisam. Jamais a esqueceremos, porque a saudade é uma dor forte. Saudade é lembrança de alguém que o tempo levou. Saudade da companhia, da partilha dos nossos problemas, das confidências, das conversas sempre muito lúcidas. Mas, não resta apenas saudade. De uma coisa temos a certeza: na mais pura expressão da palavra, a senhora foi uma MÃE! Deus a criou forte e, como árvore, estendeu seus ramos generosos sem escolher os que se abrigariam à sua sombra. E quantos se abrigaram. E agora percebemos o quanto estivemos perto da ternura que tudo acalanta e compreende. Ante a sua ausência física, o consolo é o de carregarmos no coração as sementes da solidariedade, da bondade, da harmonia e a certeza dos seus ensinamentos, a maioria deles, no silêncio das suas ações. Descanse, “Dona” Marilda, e usufrua da paz que a senhora sempre proporcionou.

Lygia Prudente

domingo, 9 de agosto de 2009

Sejam Felizes Para Sempre!


Ainda consigo me emocionar em uma cerimônia de casamento.O romantismo do momento avoca os mais profundos sentimentos que, naturalmente, nos leva a um passeio pelos caminhos que já trilhamos no que se refere às nossas relações de convivência, de paixão, de amor. As músicas cantadas nessas ocasiões são sublimes e ajudam a criar o clima de leveza e suavidade que emolduram os sonhos. O branco, cor predominante nas cerimônias religiosas, transmite paz e sofisticação. Particularmente, o casamento do meu amigo de batalhas, Rodrigo, que testemunhei no último sábado, primou pela elegância, requinte e sofisticação. Tudo de muito bom gosto, no critério da simplicidade dos seus protagonistas, sem os exageros do strass nem paetês. Elegante como ele, e, agora percebo, como ela também. Estavam lindos e se notava o brilho e a intenção que havia no olhar de ambos: viverem juntinhos para sempre. Lotavam a Igreja São Pedro e São Paulo (Aracaju/SE/BR) a família e os amigos que, ao receberem o cortejo, transpareciam a alegria pela oportunidade de testemunharem um marco decisivo e tão importante na vida de pessoas queridas. Depois dos padrinhos, o noivo, lindíssimo e muito contrito, conduzido pela mãe (que agora a reconheço da minha época de estudante, acho que do Atheneu ), orgulhosa do papel cumprido e, com certeza, ansiosa pelo novo momento que a família viveria a partir de então. Finalmente, no delicado tapete branco contornado por pedestais de vidro ornados com buquês de flores brancas, ao som da Ave-Maria, surge Juciara, “segurando-se” no braço do pai e admirada por todos, num momento único na vida de uma mulher. Na minha concepção, as mulheres são sempre mais corajosas, acreditam na certeza da felicidade, ousam sempre e surpreendem também, pelo poder oculto que as caracterizam e impulsionam. Isso extravasa em momentos como este e permite uma segurança e firmeza nos passos pela nave do templo, amenizando o infindável caminho a ser trilhado até o altar, onde a esperava Rodrigo. A emoção contamina os presentes. O “são agora marido e mulher”, encerra a cerimônia e abre a cortina de uma vida a dois, para a qual desejamos toda a felicidade que buscarem juntos. Isso: que buscarem, porque a convivência é o resultado de muito companheirismo, cumplicidade, tolerância, paciência, carinho e amor. Tenho certeza que estão prontos! Sejam felizes Rodrigo e Juciara! Que as cerimônias do casamento religioso sejam perpetuadas porque embalam os sonhos e revivem momentos marcantes da nossa vida.
Lygia Prudente

domingo, 3 de maio de 2009

Controvérsias da Interpretação


Novamente as vivências de cada um vêm alicerçar uma defesa em favor do supremo direito que temos de fazer uma leitura de mundo. Por sua vez, essa leitura enriquece e amadurece o indivíduo, tornando-o forte e suscitando-lhe a necessidade de se manifestar, expondo o seu pensamento com a tranqüilidade proveniente da segurança de que tem valor aquilo que ele consegue externar. Isso é uma característica do mundo moderno, pela possibilidade de acesso imediato às informações e ao poder de comunicação que se estabelece com mais facilidade, através dos meios tecnológicos. Em muitas salas de aula, ainda, fica muito evidente a forma prosaica com que são elaborados os instrumentos de avaliação e o processo de construção do conhecimento. É preciso que haja um despertar no sentido de se enxergar o aluno como pessoa e que ele, com a sua vivência, faça o seu papel de disseminador da sua cultura e do seu saber, enriquecendo o ambiente de sala e daí, o encontro das vivências e experiências, tende a ser um novo mundo de descobertas e enriquecimento cognitivo e cultural. Por isso mesmo, a pedagogia mais evoluída percorre agora o caminho do investimento no hábito da leitura, esse meio simples e eficiente na aquisição do conhecimento. Afinal de contas... ler não dói! O exercício da leitura, incontestavelmente, aguça a percepção, tão importante para a interpretação de mensagens. E quando falamos de interpretação, estamos a falar do sujeito “no mundo”, de como ele se sente frente a tudo que se passa ao seu redor e, a partir daí, chega às suas próprias conclusões, sem receio de julgamentos de outros. Para ilustrar esse raciocínio, vale a pena falar sobre um filme nacional - DIVÃ ( muito bom ), cujo enredo traz à tona a complexidade das relações: Mercedes (Lília Cabral) nesse filme, assume as suas incoerências e indecisões e sai na busca de respostas que possam solidificar as suas iniciativas a partir do seu verdadeiro “eu”, colocando, inclusive, em risco uma relação de 20 anos, porque se descobriu enquanto pessoa, com vontades e sonhos – “realizáveis e irrealizáveis”. Não podemos esquecer que “as aparências enganam” e que os fatos e acontecimentos precisam ser analisados para que se tornem compreensíveis para nós mesmos, sem, contudo, isolá-los do contexto no qual estão inseridos.

Vamos exercitar um pouco esse conceito? Façamos um jogo e vendo o vídeo abaixo, cheguemos às nossas próprias conclusões. E, assim, constatemos a diversidade de formas de interpretar, analisando o que representa a personagem no contexto da vivência de cada um.


Lygia Prudente

domingo, 12 de abril de 2009

Jade Barbosa


“Moro... num país tropical... abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza...” Nesse mesmo país, para desespero dos patriotas, bairristas, tomamos conhecimento de absurdos como o momento de desespero de Jade Barbosa – sabem quem é Jade, não é? Sim, a ginasta, aliás, a brilhante ginasta que só trouxe louros para o Brasil, exatamente por sempre tê-lo representado tão bem. Pois é, Jade está fazendo uma campanha, vendendo camisetas licenciadas em seu site oficial, para manter-se em tratamento de uma lesão grave na mão direita, chamada necrose do capitato ( que pode encurtar a sua carreira), quando se apresentava, mais uma vez, representando o Brasil, a nossa “pátria amada”. Que descabimento... mas, o empenho dos governantes é quase histérico no sentido de realizar a Copa do Mundo aqui, num país aparentemente saudável, seguro, confiável, só pra inglês ver, apesar de tantas belezas naturais, de um povo alegre, criativo, ingênuo e, infelizmente, não muito comprometido com a coerência no voto. Quero registrar o meu repúdio a essa explícita falta de estímulo à escolhas condizentes com a que almejamos para os nossos jovens, futuro dessa nação, pelo descuido, pela indiferença, pelo menosprezo à situações como a que passa a nossa ginasta Jade, brasileira como eu, com muito orgulho!
Lygia Prudente

A Música de todos os tempos

"She", Charles Aznavour

A música nos reporta, romanticamente, a momentos significativos das nossas emoções. O coração se enche de alegria e revivemos cada detalhe de algo que não queremos esquecer, com o frescor sentimental de um hoje. E a música que consegue esse efeito mágico, merece estar sempre na mídia, para que fique arraigada, numa prova inconteste que boas composições podem vir á tona em todos os tempos que serão apreciadas. O bom gosto musical não tem classe social e nem língua pátria. A sonoridade une os povos e suscita sentimentos nobres. Tantas e tantas composições que merecem destaque nesse emaranhado de qualidade musical. Particularmente, sou fanática pela música francesa, Charles Aznavour, Edith Piaf, Mireille Mathieu, sem com isso, deixar de apreciar Natalie e Nat King Cole, Frank Sinatra, e tantos outros que merecem igual destaque. Com relação à nossa música, inegavelmente, é hours concours, tem peculiaridades muito próprias da criatividade brasileira, a exemplo de Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim e outros tantos não caberiam neste espaço, merecem inclusive, uma postagem própria, dentro em breve, avocando a arte de Pixinguinha, Noel Rosa, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Cauby Peixoto e muito mais. Portanto, música é música em qualquer lugar do mundo. Deleitem-se com os momentos musicais propostos nessa postagem. E ... “vive le musique!!”

"Non, je ne regretti rien", Edith Piaf

Lygia Prudente

sábado, 11 de abril de 2009

Casa de "Vó" (3)

Simone, o "Judas" e eu.


Nada mais gostoso do que lembranças, evidentemente, boas lembranças. E elas, geralmente, estão no convívio da família. É tão rica a vivência que trazemos no nosso amadurecimento, recheada de fatos e acontecimentos que nos remetem ao passado com a sensação de paz, de deleite, de colo de mãe. Já tivemos oportunidade de falar do Natal em família, do carnaval também. Agora, os feriados da Semana Santa nos remetem, novamente, a esse convívio alegre, quando partilhávamos, ainda, da presença de filhos, irmãos, hoje distantes geograficamente, rasgando o nosso coração de saudade, consolados pela certeza da felicidade que, assim mesmo, permeia as suas vidas. Afinal, filhos são criados para o mundo. Pois é. Mas, em anos atrás, tal qual no carnaval, aproveitávamos os feriados da Páscoa para passarmos, todos juntos, em Pirambu ( uma praia no litoral norte do Estado de Sergipe), na casa de Luiza e Edson, mais uma vez citados como anfitriões. Eu e Armando, os filhos Guilherme e Simone, sobrinhos, naturalmente, Luiza e Edson, mães de Luiza e Armando e de Edson, filhos, genros e noras e amigos dos jovens que, pela ligação afetiva, eram considerados sobrinhos também. Hoje, já pais e mães, ainda me chamam de “tia” Lygia. E em um destes feriados da Páscoa, resolvemos queimar um “Judas”, conforme manda a tradição do Sábado de Aleluia, ainda fortemente respeitada no nosso Nordeste. Abrindo um parêntese: dentre os antigos ritos pagãos, a QUEIMA DO JUDAS é o mais popularmente conhecido. Acontece no sábado anterior ao domingo de páscoa, parecendo evocar a traição de Judas Escariote a Jesus Cristo, como a Bíblia nos fala. A celebração segue o rumo que vai da leitura de um “testamento” à encenação de uma condenação, cuja forma de execução, apesar do seu aspecto lúdico não exige o rigor da autenticidade, uma vez que o boneco é amarrado e queimado com fogo pirotécnico e, na narração bíblica descreve um enforcamento. O boneco a ser executado representa, sempre, alguém a quem se procura visar com a crítica social, não passando de uma mera brincadeira inofensiva. Fecha o parêntese. A movimentação que essa decisão em grupo causava, deixava no ar uma excitação geral, nos preparativos: procuravam roupas velhas, em desuso; o capim ou jornal para o enchimento; encarregavam-se de batizar o “Judas”, e finalmente, preparavam-se para escrever o testamento – a parte mais engraçada e esperada da festança. Como a família era grande, porque, além dos que estavam na casa de Luiza e Edson, outros estavam também em Pirambu, na casa de Selminha, prima de Armando e Luiza. Cerca de quarenta pessoas. Eu, particularmente, adorava toda essa movimentação. Era do meu temperamento e também, sempre me dei bem com jovens, afinal, sou professora e essa profissão não concede o luxo de trabalhar acomodada. E olhe que, tive oportunidade de lidar com jovens em momentos conturbados, difíceis, quando da minha gestão na direção de escolas, mas, sempre nos demos bem, contornando as divergências de opiniões, evidentemente construtivas, com esclarecimentos colocados de forma bastante transparente, o que me possibilitava ganhos, pela confiabilidade que isso trazia. Mas, enfim, como eu sempre gostei de escrever, o testamento do"Judas" sempre parava nas minhas mãos e com isso, a responsabilidade de ser engraçada e dizer as coisas certas para as pessoas certas. Que legal! Logicamente, eu precisava contar com a ajuda da meninada, porque detalhes de cada um eram importantes para a coerência das mensagens. E começava sempre assim: “para fulano, que não tenho o que deixar, deixo isso e aquilo para ele se arrumar....” . E a festança adentrava pela madrugada, onde se bebia para comemorar e comia também. Saudades! Só mesmo em Casa de “Vó”.

Abaixo, um vídeo que mostra a queima de um "judas" qualquer, para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de vivenciar esta tradição.


Lygia Prudente

domingo, 29 de março de 2009

Cultura Musical

CURARE, BORORÓ, ORLANDO SILVA e DA COR DO PECADO

Ouvi certa feita ainda criança, uma música por nome de “curare”, naquela ocasião meu pai tinha um refinado gosto para a música de nosso cancioneiro popular, a letra versava que uma linda mulher tinha traços de beleza jeito de índia, na boca aquele vermelho carmim, mas... foi a natureza quem quis assim. Hoje pesquiso a música não só brasileira, como também a estrangeira pelo simples fato que em minha infância, lá pelos idos das décadas de 60 e 70 em Aquidabã, meu torrão, aprendi a gostar e me interessar por músicas de qualidade melódica e poética por influência de meu pai que foi solista de violão tenor cavaquinho bandolim e clarineta, mas faço isso por puro diletantismo. Bororó (Alberto de Castro Simões da Silva), foi padrinho da carreira artística do cantor das multidões Orlando Silva, que em 1939 ficou enciumado por não ter gravado “Da cor do Pecado”, o outro clássico lançado por Sílvio Caldas. Então o compositor deu-lhe “Curare”, como compensação. Além da letra brejeira a construção harmônica da segunda parte, notadamente a parte final, uma seqüência avançada para a época, tornam esse samba atraente para intérpretes, como João Gilberto, que sempre nutriram uma grande vontade de incluí-las em seus repertórios. “Da Cor do Pecado” foi oferecida a Sílvio Caldas (caboclinho querido) como era conhecido em meio a boemia carioca, em 1939 por Bororó, que aliás, é um grande samba, o melhor do reduzido repertório do compositor, possui uma das letras mais sensuais de nossa música popular: “Este corpo moreno/ cheiroso e gostoso/ que você tem/ é um corpo delgado/ da cor do pecado/ que faz tão bem...”. Segundo o autor, “a musa desses versos chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável”. “Da cor do Pecado” permanece como um clássico, tendo regravações de artistas como Elis Regina, Nara Leão, João Gilberto, Ney Matogrosso e até vejam só, Marília “Gabí” Gabriela e os instrumentistas Jacó do Bandolim e Luís Bonfá, além de orquestras estrangeiras como Caesar Geovannini e Clebanoff.. Além dos dois clássicos populares “Curare e “Da Cor do Pecado” Bororó em 1943 compôs em parceria com Evrágio Lopes o samba-choro “Que È, Que É?”. Bororó faleceu em 1986 com 88 anos. Vez por outra sempre colaborei com o JORNAL DA CIDADE de forma esporádica, pretendo dar seqüência a esse artigo, mostrando as façanhas de letristas e compositores da MPB, abordando as contendas musicais entre Noel Rosa x Wilson Batista, Marlene x Emilinha Borba, Rita Lee x Jovem Guarda, Paulinho da Viola x Benito di Paula . Quero promover um minucioso levantamento da implantação da MPB como pilar básico da cultura nativa.

Ludwig Oliveira
Radialista e Professor
Publicado no Jornal da Cidade
Mar/2008
E-mail:
lueventos3304@hotmail.com

Vídeo: João Gilberto - A Cor do Pecado, de Bororó

Lygia Prudente

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (3)



Árvore
um poema de
Lygia Prudente M. Vieira


Mulher ,
Tu és árvore!

E no fértil solo onde fostes plantada,
germinastes faceira tal botão de rosa.
Crescestes semeada pelas intempéries,
fortalecendo teu tronco,
com a teimosia da tua vontade.

Mas, que magia é essa que te rondas,
e que te concedes tanta ousadia?
Será a sustentação das tuas raízes
ou a frondosa sombra que a tua copa irradia?

Não só!

A suavidade do agito dos teus galhos,
e a firmeza tenra que te faz convincente,
te faz única, ímpar, singular,
na labuta ferrenha de proteger tuas crias.

Árvore Mulher,
Tu és bela!

Intuitivamente... obstinada.
Vaidosamente... teimosa.
Irritantemente... persistente.
Atraentemente... sensível.
Contraditoriamente...
E, quase sempre, forte,
Acima de tudo...
Árvore!
Lygia Prudente

quarta-feira, 4 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (2)


Nesse mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, impossível não falar de três mulheres que exerceram papel preponderante na minha vida: Lucila, Maria de Lourdes e Maria Aliva, avó, mãe e sogra, respectivamente. As três traziam no âmago características de fortaleza, sendo sempre mulheres de fibra, submetidas à duras provas, durante a vida terrena e cujos ensinamentos norteiam, ainda hoje, o caminhar dos seus privilegiados herdeiros. A minha avó Lucila, explícita na expressão da palavra, muito transparente, comunicativa, de personalidade marcante, uma líder inata, teve sob o seu comando uma família de sete filhos, seguidores dos seus ensinamentos. Exerceu seu papel de mãe e de mulher, trabalhando e assim contribuindo para a manutenção da família. Com o meu avô, foi dona de farmácia, de armazém, mostrando-se disposta a quebrar paradigmas, numa época em que a mulher estava confinada à viver em casa e para a casa, à cuidar somente da família. Maria de Lourdes – a minha mãe, herdou da minha avó essa firmeza de propósitos sem, contudo, perder a meiguice. Junto com o meu pai, trabalhou nos Correios e Telégrafos, chegando a exercer cargos de direção, com louvor, considerando o respeito com que era citada pelos colegas. Teve sob a sua tutela, quatro filhos – eu e mais três homens. Trazia consigo um problema cardíaco congênito, gravemente aflorado a partir de um fato trágico nas nossas vidas: o seu filho mais novo, aos sete meses de idade, morreu em decorrência de um incêndio, na calada da noite, no quarto onde dormia, ocasionado por um curto-circuito. Daí por diante, a alegria que a caracterizava, quer no dia-a-dia em família, quer nas reuniões comemorativas, desapareceu e assim, treze anos depois, ela nos deixou atendendo aos desígnios de Deus. Eu estava com 18 anos e, agora, única mulher da casa, procurando seguir seus exemplos, pautei a minha vida a partir de então. Casei dois anos depois do seu falecimento e encontrei na minha sogra, Maria Aliva - a terceira das mulheres em pauta, uma outra mãe. Essa era a docilidade em pessoa, e, quando necessário, se recobria de toda a força na defesa dos seus (esposo, duas filhas e um filho). Era uma doceira fina, como fina também era a sua educação. Carinhosa com os netos, fazia-lhes sempre as vontades, não relutando em atender a um pedido nosso, para o que se desdobrava, sempre solícita e bem-humorada. A sua colaboração foi ímpar na criação dos meus filhos, tendo sido, merecidamente, muito amada por todos nós. O nosso convívio foi sempre salutar e construtivo. Como não havia mais a presença física da minha mãe, dediquei-me a ela com a ânsia natural de amparo materno e fui muito bem acolhida. Partilhamos bons e, infelizmente, maus momentos também. Essas mulheres, exemplos que ficaram arraigados na nossa formação, deixaram marcas e hoje, carregamos no coração, as sementes da harmonia e a certeza dos seus ensinamentos, herança de inestimável valor. Onde estiverem, sintam-se homenageadas nesta Semana da Mulher.
Lygia Prudente

domingo, 1 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher (1)

Ferro à Carvão, Fogão à Lenha: o Ranço da Emancipação

Sem feminismo improcedente, continua em andamento, inegavelmente, a equiparação entre os sexos, em casa, na escola, no trabalho e na política, fundamental no processo de modernização da sociedade brasileira. Essa ampliação da participação feminina em todos os níveis, alarga e enriquece, torna mais honesto e transparente o desenvolvimento sócio-político. A mulher está encontrando o seu espaço e... sozinha. Freud, o pai da psicanálise perguntou certa vez: “Mas, afinal, o que querem as mulheres?”. Para o homem, a mulher sempre foi um enigma, e a sua falta de sensibilidade para decifrá-lo, levou-o a produzir esteriótipos que moldaram durante séculos a imagem da mulher como aquele ser que não evoluiu plenamente, uma versão frágil e mal-acabada da espécie humana. Sexo frágil? Que nada! Hoje elas estão revolucionando o mundo, governando países, viajando ao espaço, são maioria nas universidades, decidem eleições, dirigem empresas e quebram recordes esportivos. É importante salientar que o ser homem e ser mulher, tende a variar em função de épocas e culturas. A fixação de qualidades caracteristicamente femininas ou masculinas é uma clara conseqüência de divisão de papéis convencionada pela sociedade. O filósofo grego Aristóteles definia a mulher como “um macho mutilado”. Santo Agostinho, em um dos seus sermões dizia: “Homem, tu és mestre, a mulher é tua escrava, Deus assim o quis.” Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica : “Como indivíduo, a mulher é um ser medíocre e defeituoso”. Na Renascença, as mulheres foram sistematicamente impedidas de ingressar no mundo do saber. A dicotomia entre vida pública - reservada ao homem -, e vida privada – a cargo da mulher -, acabou se tornando uma armadilha que limitou a realização de ambos. Descartar a participação da mulher, teve conseqüências drásticas para o nosso mundo ocidental, poderoso, eficiente e também tão frio, duro e violento! Num primeiro momento, a mulher lutou por igualdade de direitos com o homem estabelecendo assim uma competição. Porém, recentemente, ela está se dando conta do seu poder de ação, elevando assim a sua auto-estima, promovendo os seus valores e substituindo a competição pela interação e cooperação. A nova mulher tem a coragem de encarar seus próprios medos, desejos, conflitos, e esse amadurecimento, digamos assim, lhe permite aceitar – de forma mais maleável – os do homem. Ela está sensitiva às oportunidades para expor o seu talento natural como predisposição para relacionamentos e habilidade de comunicação. Assim, passou a ganhar maior fatia do mercado de trabalho, assumindo postos de chefia em cargos outrora essencialmente masculinos. As mulheres conseguiram marcar presença e impor uma identidade como executivas, políticas, e hoje proliferam-se como internautas. Aquelas viciosas “Amélias” – treinadas para cuidar da casa, marido e filhos, somente, dependente em tudo do companheiro que escolheram por elas – não mais são o comum, porque há vontades e desejos exteriorizados e a salutar manifestação da realização profissional aflorou. As responsabilidades aumentaram, com certeza, porque abarcaram para si mais tarefas, mais compromissos – serem mães, mulheres, donas-de-casa, executivas, escritoras, artesãs, etc., etc., etc. -, com uma jornada de trabalho mais pesada, entretanto... mais prazerosa, por serem elas mesmas. Os exemplos de mulheres, que descobriram o seu valor enquanto pessoa, são vários na nossa história: Chiquinha Gonzaga, a primeira a reger uma orquestra no Brasil, por volta de 1879; Deolinda Daltro, professora, fundadora do Partido Republicano Feminino, em 1917, comandou uma passeata exigindo o direito de votar; Em 1822, na Semana de Arte Moderna, Anita Malfatti introduziu o Modernismo nas artes; Na política contamos com uma representação feminina bastante significativa em números, mas, infelizmente, com uma participação ativa no Plenário ainda muito tímida, mas temos responsabilidade sobre isso. E vamos exercitar o nosso amadurecimento. Indubitavelmente, a emancipação da mulher leva à emancipação do homem, que perde uma escrava, mas reencontra uma companheira na cumplicidade, na ternura, na estima, restaurando dessa forma, valores femininos como intuição, perspicácia, tolerância e imaginação.
Lygia Prudente

Essa é uma merecida homenagem à MULHER pela sua persistência, pelo seu poder interior, pela sua meiguice, pela sua força e pelo seu embutido espírito de liderança e, como já disseram...

“Nada mais contraditório do que ser mulher...
Mulher que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia, e transmite cada uma delas num único olhar.
Que cobra de si a perfeição e vive arrumando desculpas para os erros daqueles a quem ama.
Que hospeda no ventre outras almas, dá a luz, e depois fica cega
diante da beleza dos filhos que gerou.
Que dá as asas, ensina a voar, mas não quer ver partir os pássaros,
mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda que seu amor nem perceba mais tais detalhes.
Que, como uma feiticeira, transforma em luz e sorriso as dores que sente na alma,
só pra ninguém notar.
E ainda tem de ser forte para dar os ombros para quem neles precise chorar.
uma mulher!” (?)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Nasser e Brizola

Vamos ampliar os nossos horizontes no que se refere à cultura geral, absorvendo o artigo do Prof. Ludwig Oliveira:

O Bandoleiro da Sintaxe

Ludwig Oliveira


Vai longe o tempo em que briga político-partidária era levada ao extremo e de alto nível intelectual. O jornalista, letrista e escritor Davi Nasser, que nasceu na cidade paulista de Jaú, em 1017, e morreu no Rio de Janeiro em 1980, aos 13 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, passando a viver de sua féria como vendedor ambulante. A partir dos anos 50, tornou-se, ao lado de Jean Manson, um dos mais bem sucedidos repórteres e articulistas políticos na revista O Cruzeiro. Marcou sua vida como compositor com “Normalista”, ao lado de Benedito Lacerda; “Hoje quem paga sou eu” e “Carlos Gardel”, ambas com Herivelto Martins; todos gravados por Nelson Gonçalves. Foram seus principais parceiros: Alcir Pires Vermelho, Custódio Mesquita, Roberto Martins, Armando Cavalcanti, Klécius Caldas e tantos outros. Pois bem, Davi Nasser costumava fazer algumas críticas àqueles políticos que ‘tropeçavam’ em suas oratórias, chegava a ser até um tanto contumaz. Certa feita, escreveu em sua coluna, na revista O Cruzeiro, um artigo com o título, “O Bandoleiro da Sintaxe”, fazendo menção jocosa, degradante, ao grande líder político Leonel Brizola por não usar corretamente algumas concordâncias verbais e/ou verbo-nominais. Leonel Brizola era do tipo que se achava eloqüente e que usava de uma facúndia escorreita, castiça (imaginem se ambos fossem vivos: Nasser e Brizola, iriam ficar embevecidos, galvanizados, com os Rolas, Birrôlas, Xiribitas... e a ladroagem, o banditismo de um partido que apregoou moralidade por quase 30 anos. “Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor”, de autoria de Manoel Bandeira, do livro “Estrela da Vida Inteira”, p.98). Mas não era bem assim não. Ele, Brizola, aqui, acolá, estava cometendo alguns equívocos em nossa língua pátria. Taí, o motivo que levou Davi Nasser a rotular Brizola de “Bandoleiro da Sintaxe”, pois o mesmo não se fez de rogado e, aureolado a dois brutamontes (quebra-facas, súditos, baba-ovos, puxa-saco) mandou um “tortolho” no queixo de Nasser, que foi a nocaute. Qual foi o epílogo da contenda Nasser x Brizola? Nasser fez um segundo artigo e intitulou de: “O Coice do Pangaré”.


(*) Radialista e Professor

(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em 05 de setembro de 2006)

Lygia Prudente

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Casa de "Vó" (2)


Falamos da importância do contato, mesmo que esporádico, com todos que integram a nossa família, quando aproveitamos o período natalino e relatamos as lembranças inesquecíveis enraizadas nos nossos corações, do Natal da Casa de “Vó”. Percebemos que esse sentimento de saudade é universal, pela acolhida que teve aquele depoimento e pelos comentários entusiasmados despertados pelas lembranças pessoais. Por isso mesmo, e aproveitando o Carnaval, voltamos à Casa de “Vó”. Eu, Armando e nossos dois filhos, Simone e Guilherme, passávamos o Carnaval na casa de Edson e Luiza, cunhado e irmã de Armando, em Pirambu. Lá pelos idos de 1993, inauguramos a casa e daí em diante ela passou a ser o point dos feriados prolongados. Além dos proprietários serem simpáticos e acolhedores anfitriões, Pirambu é uma praia do litoral norte de Sergipe/Brasil, e, por si só, era atraente programação, principalmente para adolescentes. O Carnaval representava “lotação completa”, porque lembro bem, em um desses feriados, tivemos o prazer (nisso tem os dois lados da moeda: o trabalho e a alegria que tudo isso proporcionava) de reunir 42 pessoas. Nós locávamos uma “topic” e, além de nós quatro, iam também conosco primos e amigos, tanto de Guilherme quanto de Simone, sem falar nos demais convidados dos anfitriões, na sua maioria familiares de Edson. As tarefas domésticas e as despesas eram, na medida do possível, distribuídas entre todos numa partilha clara do ônus e do bônus, normalmente gerados por momentos marcantes. Como se pode imaginar, não havia tranqüilidade nem calmaria, porque o movimento do entra e sai de adolescentes era alucinante. Incrível como eles não cansam na mesma proporção que nós. A pracinha onde ainda acontece o carnaval, fica bem próxima do nosso endereço e a facilidade das cidades pequenas do trânsito fácil e seguro, permitia que liberássemos a programação dos jovens, desde que essa liberdade ficasse atrelada à horários e outros compromissos. A hora das refeições era uma verdadeira “festa de Babete”, pela quantidade de comida que se preparava. Eu levava para o primeiro dia da estadia, um caldeirão de feijoada. E íamos diversificando o cardápio nos outros dias. À noite, antes de irmos à pracinha, era saboreado por todos um “cachorro-quente” com refrigerante. Para que se tenha uma idéia, comprávamos por noite, cerca de 100 (cem) pães. A casa ainda era pequena, embora tivesse três quartos, e os jovens dormiam na garagem, nos dois primeiros anos, considerando que os quartos eram destinados aos casais e aos mais velhos – D. Iracema e D. Aliva, mães de Edson e de Luiza, respectivamente e, fisicamente, não mais entre nós. Depois, a casa foi crescendo na sua estrutura. Bons tempos passam depressa e os filhos crescem sem que percebamos. Pois é, os nossos cresceram, constituíram família também, e a Casa da “Vó” de Pirambu, por um período, perdeu aquele “helan”. Hoje, eu estou voltando aos velhos tempos, e retomei o carnaval passado em Pirambu, de onde agora publico essa postagem, e onde se reuniram, novamente, os não mais adolescentes – nossos filhos, desta feita com os seus rebentos, nossos netos e sentindo a ausência a esse reencontro de Guilherme que, atualmente, mora em São Paulo. Carinhosamente, dedico esse registro à Luiza e Edson por poderem ter proporcionado todo esse turbilhão de vivências e sentimentos. Posso dizer que tudo vem à tona, como boas e acalentadoras lembranças de tempos que não voltam mais, tempos do Carnaval da Casa de “Vó” de Pirambu.


Lygia Prudente



sábado, 17 de janeiro de 2009

"No Túnel do Tempo"

Dando sequência à proposta de semear a cultura da música, publico hoje mais um artigo do professor Ludwig Oliveira, desta feita ressaltando o estilo “brega” e “cafona”(tão em moda hoje, apesar da roupagem mais modernizada). Bom proveito você, na certeza de que conhecimentos novos e lembranças levam a uma cultura consolidada.



DO "CAFONA" AO "BREGA"
São vários os anos em que pesquiso sobre música popular brasileira e dentre os mais variados autores que os tenho, um deles é uma espécie de referência para o assunto em tela: José Ramos Tinhorão, que já lançou uns doze ou treze livros, possuo dois deles: “Música popular: um tema em debate”, de 1966 e “Música popular: o ensaio é no jornal” um dos mais recentes de sua autoria, são livros estribados em trabalho de pesquisa e análise crítica sobre os mais variados gêneros e compositores, mas o polêmico Tinhorão nunca abordou nomes como Paulo Sérgio, Odair José, Nelson Ned ou Benito di Paula, vertente esta, que era rotulada de “cafona”, palavra italiana, cafoné, que significa indivíduo humilde, tolo. Criada no Brasil pelo jornalista e compositor Carlos Imperial , a expressão cafona subsiste hoje como um termo utilizado para designar “coisa barata, descuidada e malfeita” , disse certa feita o pesquisador Ricardo Cravo Albin: “sempre que eu fizer referência ao repertório “cafona” – a palavra aparecerá entre aspas porque contém um juízo de valor impregnado de preconceitos com os quais não compartilho - , estarei me referindo àquela vertente da música popular brasileira consumida pelo público de baixa renda”, no que eu concordo com Cravo Albin. O economista Edmar Bacha criou o termo “Belíndia”, uma metáfora para explicar a existência de dois “Brasis”, um composto pela classe média e alta, morando no grande centro urbano e com um padrão de vida de primeiro mundo, semelhante ao da população da Bélgica; outro, composto pela classe média baixa e assalariada, vivendo em precárias condições, sem escola e informação e com um padrão de consumo semelhante ao da população da Índia,. Transportando esta metáfora para o campo específico da música, é possível dizer que artistas como Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso tinham seu público entre os habitantes da “Bélgica”, enquanto que os cantores “cafonas” eram ouvidos e admirados pela imensa maioria da população da “Índia”. Pois, Tinhorão e o pesquisador Ary Vasconcelos sempre se preocuparam com a população “pseudo-intelectual” voltada para o estilo daqueles que faziam a MPB – Caetano, Gil, Milton Nascimento, Edu Lobo, Geraldo Vandré, Chico Buarque e discos como “Sinal Fechado” e “Clube da Esquina” , sem dúvida representativos, mas que na época eram consumidos por um segmento mais restrito de público, da classe média. São coisas que me levam a uma reflexão acerca do silêncio da história. O historiador francês Jacgues Le Goff, afirmava que era preciso interrogar-se sobre os esquecimentos, os hiatos, os espaços em branco. “Devemos fazer o inventário dos arquivos do silêncio, e fazer a história a partir dos documentos e das ausências de documentos”. Quando pesquiso a obra musical de uma geração de cantores/compositores considerados “cafonas”, recuperar a memória de uma facção da cultura deixada pra trás. Quem não lembra e quem não gosta de ouvir a balada: “Esta é a última canção/ que eu faço pra você/ já cansei de viver iludido/ só pensando em você...do alfaiate e cantor Paulo Sérgio.

LUDWIG OLIVEIRA
Radialista e Professor



(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em março de 2008)

Assista ao vídeo "Amor tem que ser Amor", com a participação do cantor Paulo Sérgio no Programa "Globo de Ouro", em 1976.


Lygia Prudente

sábado, 10 de janeiro de 2009

Choro e Chorões


O MURAL de hoje dediquei à difusão da nossa cultura musical, dando a minha parcela de contribuição para que o CHORINHO seja conhecido e notabilizado também dentre os jovens, aguçando o gosto pela música de qualidade. E nada mais justo que avocar um artigo do professor Ludwig Oliveira, um dedicado estudioso da música através dos tempos.


O chorinho no Brasil
Ludwig Oliveira (*)

Choro – Devo antes de dissecar, dizer que o Choro não é exatamente um gênero musical, como o samba, o baião, a valsa, etc. É uma maneira de tocar, uma linguagem criada pelo músico carioca. O Choro quase sempre é sentimental, mas também pode ser alegre e saltitante. Suas origens são desconhecidas, mas existem algumas hipóteses que o fazem provir da África: os negros cafres costumavam executar uma espécie de concerto vocal, ao qual chamavam xôlo, que foi trazido para o Brasil, confundindo-se essa palavra africana com a portuguesa “choro”. Diversos historiadores de nossa música popular estabeleceram que o Choro nasceu nos anos 70 do século passado, no Rio de Janeiro, o mesmo período, aliás, em que foi criado o maxixe, outro gênero musical carioca. A polca “Flor Amorosa” do flautista Joaquim Silva Callado Júnior. Quando o violoncelista Casemiro de Souza Pitanga tirava incríveis vibratos de seu instrumento, numa apresentação no Salão do Congresso Fluminense em novembro de 1857, um determinado espectador gritou: - chora Pitanga! Esse grito, que resultou em 1868 na polca “Chora Pitanga”, de Manoel Joaquim Maria, identificava também um modo de tocar das músicas da época. A grande emulação desses encontros era a apresentação de novas músicas que pretendiam “derrubar” os acompanhadores, com as suas modulações inesperadas, além das improvisações dos solistas. Um dos músicos surgidos naquela comunidade de chorões chamava-se Albertino Ignácio Pimentel – o Carramona (1871-1929) – deixando uma obra das mais expressivas e uma lembrança muito forte entre os músicos. Lamentável que não houvesse ninguém naquela época interessado em registrar num livro aquele momento da música popular brasileira. Só muito mais tarde, em 1936, Alexandre Gonçalves Pinto, um antigo tocador de violão e cavaquinho e humilde funcionário dos Correios, sem qualquer vocação para escritor, escreveu por conta própria um livro chamado “O Choro” (atualmente uma raridade biográfica), com reminiscências de cerca de 300 figuras do Choro carioca. Através desse livro foi possível saber, por exemplo, que Carramona aprendeu a tocar piston ainda criança, quando era interno da Casa dos Meninos Desvalidos, em Vila Isabel. E também que a Princesa Isabel gostou tanto das suas interpretações que, como prêmio, pediu a um médico que colocasse – por conta da família imperial – um “olho de vidro” no lugar do seu olho vazado. Outro Chorão da mesma época é Pedro Manoel Galdino, autor de Choro “Flausina” uma das primeiras gravações de Pixinguinha (1912), Pedro Galdino – segundo depoimento de Pixinga ao crítico Tinhorão – “era um crioulinho que trabalhava na fábrica de tecidos da Vila Isabel. Como músico era fraco, mas compunha umas coisas bonitinhas.” Outro grande: Luiz Americano (1900 – 1960), saxofonista e clarinetista, filho de Itabaiana-SE, deu também grande parcela ao Choro através de composições bastantes destacadas – É do que há, Intriga no Boteco do Padilha, Numa Seresta, Luiz Americano no Lido, Assim Mesmo, Minha Lágrima e Sorriso de Cristal. Diversos outros também se destacaram, Avena de Castro, Aristides Borges, Luiz Otaviano Braga, Patápio Silva, etc. Enfim, o Choro gerado sob o impulso criador e improvisatório dos chorões logo perdeu as características dos países de origem, adquirindo feição e caráter perfeitamente brasileiros, a ponto de se tornar impossível confundir uma Polka da Boêmia, um Schottiche teuto-escocês ou uma Valsa alemã ou francesa, com o respectivo similar brasileiro, saído da inventiva desses Chorões que se chamaram Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Irineu Batina, Pixinguinha, Mário Cavaquinho, Sátiro Bilhar, Candinho Trombone, Jacob e Waldir.
O Choro nasceu da necessidade inconsciente que esses músicos sentiram de nacionalizar a música estrangeira importada.
Agora, vou ouvir um Chorinho de autoria de meu pai...!


(*) Radialista e Professor

(artigo publicado originalmente no JORNAL DA CIDADE , Aracau/SE, em 10 de maio de 2000)

ASSISTA ao vídeo : "Alma Carioca: um CHORO de Menino",

uma deliciosa animação que mostra como o choro passou de gerações a gerações, mantendo viva a verdadeira cultura carioca.



Lygia Prudente

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Casa de "VÓ"!


A casa de meus pais era o ponto de encontro da família, principalmente em comemorações, fossem elas quais fossem, até que a minha mãe perdesse a saúde, fato que transformou todo este clima de alegria em treze anos de tristeza pelo sofrimento que dela tomou conta até à sua morte. Éramos três irmãos e meu pai, a partir daí. Não era mais a mesma coisa. Mais velha dos irmãos - eu tinha então dezoito anos - e única mulher, dois anos depois casei. Com o nascimento de meus dois filhos e o casamento dos meus dois irmãos, a família cresceu e foi, aos poucos, retomando aquele clima festivo, tomando como parâmetro os tempos bons vividos sob a condução da D. Lourdes. Como os meus irmãos moravam fora do estado e meu pai passou a morar com a minha avó numa casa menor, a minha casa passou a ser a casa da "Vó" que acolhia a todos com a alegria de quem já detém uma "sabedoria" pelo tempo já vivido (o que não era o caso). Lembro-me com saudades das festas juninas e época de Natal, a excitação das crianças, juntas dia e noite, a casa bagunçada sem que isso incomodasse quem quer que fosse. À noite, os colchões eram espalhados pela sala - para elas era o melhor momento - para a dormida. Ninguém queria dormir em quarto. Só no chão e juntas. Quando estavam todas as crianças, eram em número de nove. Ao relembrar, tudo isso me emociona. Quanto prazer em tê-los na minha casa, todos juntos. Naturalmente, à medida que o tempo passou, deixaram de ser crianças e os interesses passaram a ser outros, os compromissos também. Hoje, adultos, constituíram famílias também, o que divide um pouco a presença nos eventos. Torna-se complicado conseguir juntar todos na casa da "VÓ". Mas, com certeza, a boa lembrança os acompanha, porque os meus filhos vez por outra, trazem à tona esta saudade e procuro manter viva esta lembrança falando para o meu netinho (sete anos) da importância e do valor destes contatos, encontros, dentro da família. Muita saudade!

Lygia Prudente